NATUREZA VIVA - VIVA MESMO

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QUEM ME OLHA É VOCÊ OU SOU EU?

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

GRAFIA DE SI ATRAVÉS DA ARTE: CURTA ISSO



INTRODUÇÃO
 por Mônica Valéria Iaromila
http://propostasdoespaco-arteterapia.blogspot.com/2009/03/projeto-grafia-de-si-atraves-da-arte.html



Solitude começa num processo de busca pela inteireza. É um ouvir atento aos apelos do espírito, um silêncio interno que nos permite vislumbrar, sem pressa, os meandros de nosso próprio ser e do mundo a nossa volta, sem comparações e sem angústia, longe de ser solidão, é estar bem consigo mesmo.
Durante um mestrado em história, ao estudar um grande homem que nasceu, viveu e nasceu no século XVIII, chamado Olaudah Equiano, tive a oportunidade de me debruçar mais atentamente na temática das escritas-de-si (...)
Deste encontro surgiu esta oficina: do aprendizado sobre a escrita-de-si e do olhar/vivenciar o processo de descoberta constante que a arte oferece e possibilita.
 A proposta é discutir brevemente o relato autobiográfico como possibilidade transformadora, utilizando uma imaginação ativa na qual os participantes serão convidados a descobrir uma de suas potencialidades que os faz especial e que congrega elementos físicos (compleição física), intelectuais, emocionais e transcendentais (espirituais). Essa é uma perspectiva que “empodera” porque reconhecer o que somos, talvez nos ajude a buscar o que queremos ser ou a reforçar padrões de força em nós mesmos.
São vários tipos de fazer autobiográfico, mesmo através de pinturas e esculturas pode-se encontrar tal intuito. Hutton afirma que a autobiografia moderna seria um gênero diferente de retratos de si anteriores porque convidaria os leitores a engajar num tipo similar de introspecção, onde todos deveriam pensar sobre si. Quem merece ser lembrado? E por que lembrar? Hutton aborda um lugar onde o tempo encontra a eternidade e que só pode ser percebido pelo olho interno. As incursões no passado parecem ser formadas por vozes mais caras de nossa memória, para aquilo que nos move para escrever, nossas crenças. A memória seria então uma re-coleção de si, que uniria passado e presente (em cada dado tempo) e daria sustentação e significado à vida, o passado que vale a pena ser conhecido, que restaura conexões com o tempo que teria formado a pessoa que se apresenta.
A autobiografia pode ser vista como uma forma de justificativa e invenção de um novo sentido. O íntimo do indivíduo seria a fonte da verdade, de onde vem a organização do mundo, portanto, seria a sinceridade dessa expressão que interessa, mas do que a coerência e a verdade. Por esse motivo, Calliagaris considera a escrita de si crucial da modernidade, uma necessidade cultural, no qual o sujeito subordina a verdade à sinceridade. (...)

O ato autobiográfico seria algo culturalmente e historicamente datado – um fenômeno moderno e ocidental. Como Calliagaris aponta “É uma escrita autobiográfica que implica numa cultura na qual o indivíduo situe sua vida acima da comunidade a qual pertence... cultura essa na qual importe ao indivíduo sobreviver pessoalmente na memória de outros.(...)


CONSIDERAÇÕES FINAIS
O reconhecimento de que nascemos exatamente com aquilo que precisamos para viver essa jornada de um modo mais pleno é paulatino, mas que empreitada poderia ser mais válida? O início se faz sempre de um primeiro passo: no nosso caso, uma primeira oficina, onde, a partir de um reconhecimento saudável do si-mesmo e de uma "artegrafia", começamos a fiar um belo bordado, que pode vir a enfeitar de fortalezas e amor-próprio a nossa existência.

REFERÊNCIAS:


BELLO, Susan. Pintando sua alma. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2003.


COOPER, David. A. Three meditation gates to meditation practice. Vermont: Skylight Paths Publishing, 2000.


GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Editora Vozes, 1985.


GOMES, Ângela de Castro (org). Escrita de Si, escrita da História: a título de prólogo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.


HOWARTH, William L. Some principles and autobiography. In: OLNEY, James. (org). Autobiography: essays theoretical and critical. Princeton, New Jersey, USA: Princeton University Press, 1980.


HUTTON, Patrick H. William Wordsworth and Sigmund Freud – the search for the self historicized. In: HUTTON, Patrick. History as an art of memory. Hanover: University Press of New England, 1993.


JUNG, C.G. AION – Estudos sobre o simbolismo do si-mesmo. Petrópolis: Editora Vozes, 1976.


JUNG, C.G. Memórias, sonhos, reflexões. São Paulo: Editora Nova Fronteira, 2002.


LEJEUNE, Philippe. El pacto autobiográfico y otros estúdios. Madrid: Megazul, 1986.

OLNEY, James (ed). Autobiography – essays theoretical and critical. New Jersey: Princeton University Press. 1980.


PAÏN, Sara & JARREAU, Gladys. Teoria e técnica da arte-terapia – a compreensão do sujeito. Porto Aleger: Artes Médicas, 1996.


VARGAS, Mônica Valéria Silva de Queiroz. Autobiografia de um “africano ilustrado” – um estudo de caso – Olaudah Equiano (1745-1797). Dissertação de Mestrado, apresentada ao PPGHIS-UERJ, abril de 2006.